quinta-feira, 7 de julho de 2011

Iniciando uma nova fase, ansiosa, temerosa e ao mesmo tempo confiante.

Esses dias frios me fez voltar num tempo onde o tempo nos dar o privilegio, de sentar num banco a beira do rio, olhar ele correr sem pressa e aprender um pouco de sua sabedoria. Nessa mesma época as mutambas começam a florar e a floresta fica em tons de verde e rosa, fecho meus olhos e quando os abro novamente estou a rever toda essa beleza.

Fiquei a imaginar como estaria meu rio D´Ouro, furioso ou com sua calmaria constante, com seus sussurros que muitas vezes me embalaram nas noites de saudade.

Sinto-me muitas vezes acuada, como um bicho do mato aprisionado nessa selva de pedra.

Nesses dias de frio no D´ouro eram os dias que meu amigo Zé Sena menos gostava, pois como ele mesmo dizia os seus ossos já não agüentavam tanto frio. Lembro-me que eu fazia Nescau e bebíamos bem quente, ele se animava e começava a contar os causos, como funcionava os seringas e as leis dos “Coronéis”, me sentia a pessoa mais privilegiada por esses momentos raros e de total felicidade. Aprendi muito com esse velho, meu amigo, e ainda tive a audácia de pedir que ele não morresse enquanto eu não voltasse para revê-lo. Fizemos um trato, que eu voltaria em 4 anos, já se passaram 2 e meio e sempre que vejo alguém daquelas bandas, só me lembro de perguntar por meu amigo, as noticias me animam, me dão força para seguir com os projetos da cidade, mas com uma certeza que devo cumprir meu acordo com meu velho amigo.

Penso nos meus amigos invisíveis que também habitam aquelas bandas, me pergunto se nas suas conversas ao lado do fogo lembram de uma índia loira que morou um certo tempo na foz do D´Ouro, que andava por aquelas varações, despreocupada de tudo.

Saudades de comer melancia na praia, saudades de rever o mais lindo pôr do sol e o céu mais estrelado que meus olhos já viram...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Última Romantica!

Algumas coisas acontecem tão rápido que isso te impede de sofrer por perdê-las!

A vida vai passando as vezes em uma ligeireza tão grande que os acontecimentos vão te engolindo e você nem se da conta que “aquilo” que se foi era muito importante e que por muito tempo foi algo essencial para o seu bem-estar.

Contudo esse turbilhão de acontecimentos uma hora simplesmente dá uma freada brusca e a dureza da realidade é jogada contra você! É nessa hora que as pernas falham, que voz fica tremula e o coração palpita, pois exatamente neste momento a ficha caí e aí parceiro você percebe que seu “conto de fadas” não passa de uma fuga do seu inconsciente ao cair em desespero por ter abolido da sua vida uma rotina que a pouco te fazia “feliz”!

Isso machuca, confunde, agride a alma, afinal ninguém nunca está pronto para viver aquela frase clichê dita por tantos... “Quem eu pensava conhecer nunca existiu”...

Não tem como explicar para o coração que os momentos lindos, as piadas internas, as brigas banais, os e-mail trocados, e as caricias eloqüentes não existiram, ou melhor, existiram, mas tudo não passava de um “teatro”!

Como assim “teatro”?! Logo eu que tanto amo teatro, passo agora a enojar essa palavra por ela significar a inexistência de afeto sincero que alguém alimentava por mim!

Não, meu coração nega-se a acreditar que tudo era uma farsa, não é admissível que um ser humano seja tão calculista assim.

- Seres humanos são movidos por sentimentos jamais agiriam assim! (Grita meu coração)

Plaft! Um tapa de vergonha acerta meu rosto e minha consciência (razão) acusa: - Não te esqueças das atitudes que tens presenciado ultimamente; não te esqueças que a perfeição só existia no seu mundinho que sempre optou por não enxergar o real; não te esqueças que seres humanos infelizmente alimentam sentimentos medíocres e desprezíveis!

E agora? No que acreditar? Devo dar credito as minhas lembranças e saudades? Aceitar que nem sempre existe a reciprocidade?...etc.

Perguntas e mais perguntas brotam em minha mente, resposta que é bom, nenhuma!

Um dia li em algum lugar a seguinte frase: “O segredo da felicidade é boa saúde e pouca memória!”

Faço dessa frase minha bíblia!

Mágoas ficaram para pessoas que não tem pressa de serem felizes!

Como diz o velho ditado popular: eu nasci de sete meses. Sou a pressa em figura de gente!

(Texto de minha irmã Maria Meirelles)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sorria!




Ola povo que gosta de ler meus textos. Hoje coloco um texto de Chaplin que gosto muito.
Desejo que aproveitem para pensar.

Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso...
Mostre aquilo que você é sem medo.
Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu.
Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos.
Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome!
Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la, mesmo que se sinta incapaz.
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.
Ei! Olhe... Olhem a sua volta, quantos amigos...
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Você... não vá embora.
Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.

(texto de Chales Chaplin)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

SÁBADO, 2 DE FEVEREIRO DE 2008

RADIOLA ROUXINOL

José Carlos dos Reis Meirelles


Era o toca disco mais cobiçado nos seringais. Branca e cinza com auto-falante separado por fio, embutido na tampa. Alimentado por oito pilhas “radiovaque”, comia uma ou duas caixas delas por noite, dependendo se a festa fosse até o raiar do dia. Quando o dono da “Roxinó” chegava com pilha boa da festa é que tinha havido briga, de faca ou tiro, dependendo da ocasião e precisão.

Mas a do Chico Celestino, naquela madrugada, tinha ficado na colocação da Lua. O toca disco com um rasgo no prato de se ver os fios do mecanismo, o braço e agulha quebrados e o alto-falante com três furadas de peixeira doze polegadas, largado às pressas em cima da tábua do pote da água de beber que sempre é tirado do canto pra dar lugar à radiola, que mesa em sala de festa num tem. Só tem banco ao redor da sala, no fim da paxiúba batida, nos três cantos da sala que dão pro terreiro. Dois ou três rolos de paco-paco com dois ripões de paxiubão em cima. Quem não dança e senta, fica com o queixo escorado no joelho.

Chico Celestino era das matas do alto rio Iaco. Filho de pai cearense e mãe índia, porte médio, bigode de paca e cabelo preto-azulado de índio. Criado desde cedo no cabo da faca de seringa, se formou seringueiro nas colocações de fim de linha, boas de leite e fartas de caça. Bom caçador, marupiara, arrumou logo mulher e um bocado de meninos.

Naquele final de ano, depois da pesagem da borracha, o Chico foi o tuxaua do seringal. 1580 quilos de borracha! Primeiro lugar. E ganhou do Canízio Brasil, patrão do seringal Petrópolis, como de costume, uma “Roxinó”, estalando de nova, na caixa, como prêmio.

Fez logo um débito danado em pilha e disco de forró! Maior que o valor do prêmio que acabara de ganhar, mas ele não sabia disso. Se soubesse perderia a graça e não haveria festas no centro, movidas a som do melhor, de disco “sem furo, que num fica gaguejando musga”.

A vida do Chico mudou! Nos fins de semana que eram dedicados a rastejar um veado, anta ou bando de porcos, pro rancho da semana que vem, lá ia o Chico, varadouro a fora, estopa novinha e lavada às costas com a Roxinó dentro e os discos. Tudo num saco encauchado, pra não molhar de suor ou chuva. Na mão direita a calibre 16, ponto branco, americana. Cano comprido, juntadeira de chumbo que só. Afamada no seringal por não usar palanqueta, nem pra anta e de não dar dois tiros em caça nenhuma. Tiradeira de macaco preto em olho de pau crescido em lombo de terra. No cinturão de couro de veado, apertando a velha bermuda, que as “carça e a bruza ia dobrada drento da estopa, que ninguém é besta de suá ropa de festa”, curtido com casca de mogno, a boroca de seringa, impermeável com 10 cartuchos de metal dentro, carregados no capricho, “meieiro de porva alefante, socado com bucha de murmurú e tapado com cera de urucu”.

Todo sábado era uma festa. Com uma, duas, seis ou oito horas de viagem. Mas o Chico sempre ia. Não havia como recusar um convite de mensageiro da família que ia dar a festa, chegado na quinta, de dormida, pra de noite, depois da janta, se desincumbir da embaixada de responsabilidade que era portador.

Num fevereiro, sábado de carnaval tinha um festão na colocação do Buraco. Matança de capado, almoço, janta e festança a noite toda. O Chico foi. Três horas de viagem, caminho bom, apesar da lama criada pelo pisotear das tropas de burro, levando mercadoria e trazendo borracha. Logo na saída do caminho no varadouro:

- Txicuammm! A cantiga daquele passarinho do peito amarelo, que não é bem-te-vi, é agourento! O lado índio do Chico voltaria pra casa, se pudesse, pois índio não é nem besta de não dar ouvidos a agouro de pajé. Mas o lado seringueiro foi teimoso e arrastou a banda índia no rumo da festa. Isso sem falar que a 16 malhou um cartucho num porco choco de manso na beira do caminho e o dedão do pé esquerdo recebeu um espinho de taboca que varou o sapato de seringa e entrou, o tanto que um espinho entra, debaixo da unha, na subida de uma terra, justo quando enterrava o dedão nela pra não escorregar.

Chegou no buraco pelas cinco da tarde, manquitolando um pouco, porque espinho de taboca é reimoso que só. O campo do Buraco tinha uns 150 metros até o aceiro da mata. Era lugar de descanso de tropa e tinha dois ou três hectares de capim nativo. Entre a boca do caminho e a casa, uma moita de banana roxa, feito quinta feira no meio da semana, nascida sem consentimento a uns 20 metros da casa, tapava a visão de quem ia ou vinha. Antes de se desviar, o Chico deixou escondida a 20 e a boroca de cartucho.

A função do capado já tava no apuro do torresmo. Os boas de praxe, um copo de água do pote e uma talagada de cachaça, com tira gosto de torresmo quentinho é tudo que o viajante pode querer.

Um banho no igarapé de água fria, mudada a roupa, o Chico ta pronto pra janta, servida por turnos, pois já tem muita gente chegada, de todo centro e margem do seringal. Até Severino e Antonio, da família dos Praxedes da colocação Três de Paus. Gente valente, acabadeira de festa a custa de ponta de faca. E já corria o boato que eles tinham vindo pra acabar com a festa! Mas como na mata ninguém corre antes de ver o bicho, fica o dito pelo não dito, grita o bode, berra o cabrito.

Salão limpo a custa de vassoura de cipó titica, que é só quem tira caroço de farinha de fresta de paxiúba batida, radiola assentada na tábua do pote coberta por um pano alvinho de saco de açúcar, de barra costurada à mão, Chico, todo pigôito, a postos começa a festa. Seringal de muita dama, que a macharada era abatida por mordida de cobra, queda de pé de burro de 15 dentes, de seringueira maltratada e outras armadilhas, que Deus permite e o diabo arma na mata. Quem escapa, de uma hora pra outra morre na peixeira ou no chumbo, nestas festas de fim de semana. Ainda mais nessa, de feriado grande.

Os irmãos Praxedes, cada qual com uma dama dançam, já meio tocados da cachaça ao som de Luis Gonzaga:

- Luuuiz, respeita Januáaariu, respeite os oito baixu du teu paaai.

Acabou a parte e Severino falou alto, pra todo mundo escutar:

- Chico Celestino, coloca de novo essa parte.

Chico, com cuidado coloca a agulha do braço da radiola naquela linhazinha preta que separa a penúltima da última faixa do LP 33 rotações do Gonzagão. A música enche a sala e o pessoal dança. E de novo ao final da parte, Severino, falando cada vez mais alto, pede bis. É atendido. E de novo, ao final pede bis, aos gritos!

-Severino, já ta bom, vou mudar de disco!

Pra que! Severino empurra a dama que se estabaca no piso de paxiúba, ao lado de seu irmão Antonio, que nestas alturas não dança mais, a mão das costas da dama segura uma peixeira doze polegadas, e sem vê nem praquê, fura o disco e o prato da Roxinó do Chico. O irmão lasca o auto-falante do mesmo modo.

- A radiola já foi, agora é tu Chico!

A cachaça dos irmãos deu uma ajuda ao Chico, que ligeiro como só gato salta no terreiro, por cima dos bancos da beira da sala e vai direto à moita de banana roxa. Num instante a 20, com cartucho na broca, está na posição de tiro.

Os irmãos Praxedes, confiados, acharam de descer pela escada de três degraus, escorada no assoalho. Cada qual com uma peixeira maior, desfolhada, na mão. Quando Severino botou o pé direito no terreiro, Antonio tava no segundo degrau.

Chico fez ponto da cabeça de Severino, meio de banda e arrochou o dedo. Tiro seco, de cartucho bem carregado. Metade dos 25 caroços de chumbo 3T arrancaram uma banda da cara de Severino, que caiu morto. A outra metade dos caroços entraram no peito de Antonio e saíram nas costas, que caiu morto em cima do irmão. A valença é que nenhum caroço varado encontrou ninguém. A sala já estava vazia e a parede de paxiúba que dividia a sala da cozinha segurou os caroços, cansados de varar gente.

Chico foi ter mão em casa e noutro dia no barracão do seringal, aonde estas notícias chegam mais rápido que um raio. Foi levado até Sena Madureira, mas bom seringueiro, de morte justificada, não fica preso. Voltou ao seringal Petrópolis.

Na última vez que o vi, há muitos anos, ouvi dele esta história, que já sabia, por boca de outros, na noite que dormi em sua colocação, varando do Seringal Petrópolis para a Vila Assis Brasil, que neste tempo era vila. Perguntei a ele, antes de dormir, se ele ainda ia a festas.

- Nunca mais fui a nenhuma! Até o rádio vendi. De instrumento cantadô só possuo a muié. Assim mermo só na lavagem de ropa no garapé. Cantano baxo e sem repiti parte.

SEXTA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2008

A MULHER BRABA DO RIO D'OURO


A indigenista Paula Meirelles, 31, trabalha há cinco anos na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, que é coordenada pelo pai dela, o sertanista da Funai José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que forneceu para Terra Magazine, em primeira mão, no final de maio, as fotos de índios isolados atirando flechas contra um avião.

As fotos ainda hoje circulam na mídia internacional e geram perplexidade e polêmica, mas a acreana Paula Meirelles segue trabalhando na foz do Rio D'Ouro, na fronteira Brasil-Peru, numa das regiões mais remotas da Terra. Dias antes da divulgação das fotos, o zunido de uma flecha disparada pelos índios isolados a fez experimentar o maior medo de sua vida.

- Era um sábado e todos os homens haviam saído para caçar. Ficamos em casa apenas eu e a "Preta", a cozinheira. Fui ver como estava a construção da casinha nova, de madeira, quando uma flecha foi lançada. Não me atingiu e saí correndo. Acredito que eles não quiseram me acertar. Devem ter feito aquilo apenas para assustar uma mulher. Encontrei a flecha e parece com o tipo de flecha que já foi usada para atingir meu pai - relata a Terra Magazine.

Paula casou aos 17 anos e separou aos 20. É mãe de Henrique, 10, e de Ana Cecília, 13. O garoto mora com a avó materna em Feijó (AC) e a menina com o pai, em Manaus (AM). No posto de fiscalização do D'Ouro, a indigenista comanda o trabalho de quatro peões e da cozinheira "Preta". Num ambiente tão hostil e carente é inegável que a beleza dela mexe com a libido dos homens.

- Quando cheguei tive que me impor e fazer mesmo cara de braba. Não dei muita abertura para que as pessoas fizessem qualquer tipo de brincadeira. Por lá sou conhecida como a mulher braba do D'Ouro.

Leia a íntegra da entrevista na Terra Magazine.

7 COMENTÁRIOS:

Leandrius disse...

Essa é a prova viva de algo produtivo e interessante feito pelo Meireles

Jonas Amado Araújo disse...

Revistas... mexam a bunda!

Evandro Ferreira disse...

Leandrius, olha o respeito...cuidado com o coração...Você está de resguardo...evite emoções fortes

Altemar disse...

Aldeia, comida e 3 milhões por mês.
Meu Deus!

Paula Meirelles disse...

Ola, ALtemar, me desculpa mais não entendi seu comentário, o que vc quer dizer com 3 milhões por mês??????

Paula Meirelles

Altemar disse...

Minha noooossa, voce me respondeu, iuhhuuuuu!
Peço desculpas pela brincadeira mas, acredite, é de bom gosto. O jargão "casa, comida e 3 milhões por mês" era muito utilizado pelo Renato Aragão quando voce ainda nem era nascida -ou já era? bom, o fato é que significava, e ainda significa, uma exaltação ao ver uma mulher realmente bonita. Faz algum tempo que não vejo a Globo mas acho que ele ainda está por lá.
Quanto aos 3 milhões (risosrsrsrskkkkkkkkkk), não sao nada para alguém rica como você. Na sua entrevista (não sei qual das fotos ficou mais bonita) há uma referência a uma flechada que espero não tenha atingido o seu coração (risos). Parabéns ao Altino pela MARAVILHOSA entrevista. Desejo que você continue tão feliz no seu trabalho como nos mostrou aqui que o é.

walmir.AC.lopes disse...

É, o Altemar é um cara de sorte. Atirou no que viu e acertou no que não viu...

DOMINGO, 4 DE MARÇO DE 2007

O POVO QUE PLANTA PEDRA


O Papo de Índio deste final de semana destaca uma crônica do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Jr., chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira. O antropólogo Marcelo Piedrafita Iglesias sugere aos leitores do blog a leitura da crônica com a seguinte observação:

"Vida longa ao Meirelles, que, de longe, nas cabeceiras do rio Envira, em seu digno trabalho e seu jeito tão próprio de viver e ver o mundo, nos suscita oportunas reflexões, em meio às perspectivas que se delineiam hoje para as florestas acreanas e seus moradores, nesses novos tempos, do "ouro negro", das estradas (as BRs e as binacionais) e do manejo madeireiro. Para não falar da BR-319 (Manaus-Porto Velho), do gasoduto Urucu-Porto Velho e das hidrelétricas do Madeira, todos logo ali, a leste, e das atividades das empresas petrolíferas e madeireiras nas florestas do Peru, ao longo de nossas bacias hidrográficas e fronteira comuns.

Enfim, parece que um certo modelo de desenvolvimento, assentado sobre as grandes obras de infra-estrutura e a questionável extração de recursos da floresta e de seu subsolo, está prestes a se consolidar na parte mais ocidental da região amazônica. Certamente, ele não é coincidente com as formas de vida e os anseios dos povos da floresta, com as agendas, históricas e atuais, de suas lideranças e organizações de representação política ou mesmo com os sonhos e planos do Governo da Floresta, que, no Acre, deles brotou há quase uma década".





TERÇA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2008

O DIA CHEGARÁ, MAS NÃO AMANHECERÁ

Do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, correspondente do blog e coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira Brasil-Peru:

É madrugada aqui na mata. A lua se pondo e os capelões começam a roncar. Aqui tem muito capelão. Ainda bem.

Eles roncam da força que fazem, cada um com seu cipó amarrado no sol, puxando com toda força prá ele romper o horizonte e trazer o dia.


Os cujubins riscam asa: trtrtrtrtrtrtrt, a nambu azul foooooote. E eu aqui, do meu jeito, animando os capelões a arrastar o sol.

Meus amigos, meu lugar é aqui!

Posso até ter ilusões cosmopolitas, mas meu coração bate forte é aqui, nesse alto rio...

Flecha e tiro? Isso lá é nada!

Quem participa do arraste do sol com os capelões, se não se encantar antes, só pode morrer de flechada de brabo.

Afinal são eles os guardiões da vida e da morte por aqui.No dia que eles amansarem, os capelões deixarão de roncar puxando o sol...

O dia chegará, mas não amanhecerá nunca mais.

1 COMENTÁRIOS:

Cris Moreno disse...

Meirelles, tudo bem com você? Tenho pensado muito em você. Estou preocupada. Talvez seja uma armadilha, esse encantamento. Sinto que estamos te perdendo. Você não está se isolando também?

Beijos.
Cuidado.

Ah, vou deixar uma poesia pra vc do JJ Paes Loureiro:

( Sinto que há um olho que me olha.
Um olho olha
sinto
sim
um olho olha
e olho
e olha
o olho ardente atento
um olho de vitral infravermelho
móvel imóvel semovente
nem só olho que olha
íris retina rotina
mas olho além de olho
olho/olho
atento
o tanto
o quanto
um olho natimorto vivo
compulsando
compilando
olho disso e daquilo
olho de nada
fixo flexível maleável
um olho em si
e sinto que me olha...)
Monólogos de boiúnas em barrancos
mundiando
as livres navegações do canoeiro...

.........

Não é lindo? É pra vc. Volte logo, sim? É muito perigoso por ai. E depois, você já tem bastante flechas em sua coleção, não é verdade?

Bjs.